terça-feira, 14 de maio de 2013

Uma gata na coleira



Gatos são animais que não se subjugam. Ao menos, eu imaginava que não se subjugassem...

A senhora sentia-se só. Um dia alguém lembrou que seria bom ter um animalzinho por perto. Muitos estudos têm apontado o convívio com animais domésticos como remédio para alguns males da vida contemporânea: depressão, solidão, etc. Ela também pensou que gostava muito da natureza, e concluiu que seria bom, mesmo, ter um animalzinho. Um gato, talvez. Por uma bandeira política, em defesa dos projetos femininos, preferiu uma gata.

Foi a uma loja especializada em animais domésticos, escolheu o filhote, e levou-o consigo, para iniciar um novo tempo – em sua vida, e na vida do filhote. Vivendo num apartamento, comprou pequenos brinquedos para gatos, organizou a caminha para a gatinha dormir, sobre a sua própria cama. Reorganizou a rotina para abrigar a nova moradora.

Nos primeiros tempos, a gatinha não saiu do apartamento, tampouco subiu nas janelas. Quando ficou maiorzinha, ganhou uma coleira, com uma corrente elegante que se prendia à mão de sua proprietária. Então começou a fazer os primeiros passeios fora de casa: levada a caminhar em baixo do prédio, nas calçadas, na grama. Sempre com a coleira amarrada ao pescoço, presa à corrente controlada pela dona.

A gatinha rosnava, balançando a ponta do rabo de um lado para o outro. Andava arqueando o corpo, parecia esforçar-se, todo o tempo, para encontrar alguma maneira de se livrar da prisão. Sua dona explicava aos vizinhos que eram sinais de alegria. A senhora já não se sentia só, nem mais padecia de depressão. Praticava a caridade de zelar pelo pequeno animal e ajudar a preservar a natureza... Sim, tornara-se uma pessoa muito melhor...



Um comentário:

  1. Belo post-texto,sim.Como o de sempre,inspiradíssimo! Lembrou-me uma reportagem que ví,ainda ao fim dessa última semana,e mostrava um cidadão que é 'dono' de um gato bem gordão,super 'boa-gente',mas,preso a uma corrente e à disposição do público para afagos e carinhos,indistintamente,pois que,obeso e sem agilidade para fugir dos chaaaatos,a quem êle dedica 'mióóóuuuls' bem blasés,quase numa espécie de crítica a êsses... Uma espécie de 'figura pública'à revelia dele mesmo,mas em favor da afirmação pessoal do seu 'dono'...Normalmente,um gato é o senhor de si mesmo,sempre.Escolhe os seus 'donos' e 'casas',claro...

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