Há alguns anos, a professora comprou um carro novo, que tinha airbag. Andava feliz pela cidade, dirigindo a novidade. Numa noite de muita chuva, algumas ruas alagaram. Num cruzamento cheio de água, ela seguiu em linha reta onde precisava contornar uma rotatória demarcada com peças de concreto com a forma de uma esfera cortada ao meio, carinhosamente chamadas de tartarugas. A professora não as viu, pois estavam imersas na água. Como resultado, bateu o carro contra uma delas. No impacto, o airbag foi acionado e explodiu, espalhando material químico e causando queimaduras na pele da professora, em várias partes do corpo.
Ela foi à delegacia registrar o ocorrido, para responsabilizar
a fábrica do carro pela explosão do airbag. O funcionário preencheu o formulário:
“a vítima informa que bateu com o carro contra uma tartaruga...” A professora, atenta,
pediu que ele completasse a informação adequadamente: “escreva aí, bateu com o
carro contra uma tartaruga de cimento!”. Não queria problemas com as sociedades
protetoras dos animais.
Algum tempo depois, noite adentro, um carro, depois de ter
contornado corretamente uma rotatória demarcada por tartarugas de cimento, bateu
com violência contra algum objeto que ele não percebera, danificando a roda e o
pneu. O motorista parou o carro adiante, olhou a rua meio transtornado, sem
avistar nada que pudesse ter atingido seu veículo. Ficou, por algum tempo, ali,
sem compreender o ocorrido. Um passante ofereceu ajuda, que o motorista recusou,
entre receios. O passante seguiu sua caminhada, lentamente, observando à distância
o carro danificado. E pôde testemunhar o segundo carro também colidindo com
alguma coisa, a mesma coisa, que até então ninguém conseguira identificar. O segundo
motorista também parou o carro adiante e foi se solidarizar com o primeiro,
ambos com a roda e o pneu direito traseiro do carro danificado.
Enquanto isso, com calma, o passante chegou mais próximo do
cruzamento e identificou uma tartaruga de cimento na rua, deslocada da
rotatória, próxima da calçada. À noite, todos os gatos são pardos. As tartarugas
de cimento também: pardas e da mesma cor do asfalto e da calçada. Talvez tivesse
saído fazer uma caminhada. Assim, disfarçada, ela atingira os dois carros sem
ser percebida.
Pensando por outro lado, pobre tartaruguinha, mal saíra para
um breve passeio, acabou atropelada por dois carros seguidos...
Há poucos dias, outra professora relatou que sofrera uma
queda, em razão da qual precisou ficar em licença médica por alguns dias. Indagada
pela gravidade da queda, ela explicou que, atravessando a rua, tropeçara numa
tartaruga... Na queda, bateu com o rosto em outra tartaruga, quebrara um dente,
além de escoriações em todo o corpo, resultando em vários hematomas.
Tartarugas de cimento: prefiro tê-las minhas amigas...
melhor não arriscar!