Clóvis de Barros Filho, Mario Sergio Cortella e Leandro
Karnal são referidos como os três intelectuais brasileiros que aprenderam a
operar as mídias sociais, ganhando visibilidade, chamando a atenção para seus
discursos, e fazendo a cabeça de muitos jovens, ao tratar de temas diretamente
ligados às angústias da vida contemporânea. E, é claro, faturando dividendos com isso, seja na venda de seus livros ao estilo bem mercadológico, seja no retorno financeiro resultante das visualizações de seus vídeos na plataforma Youtube.
Destes, Leandro Karnal, com formação na área de História, é
um professor universitário que atende a todas as exigências protocolares de
quem orienta estudantes em cursos de graduação e pós-graduação stricto sensu. Por
exemplo: tem seu currículo disciplinadamente atualizado na Plataforma Lattes,
do CNPq, conforme exigem os sistemas de avaliação da CAPES/MEC. Atualização tão
disciplinada quanto os ternos que usa, a camisa impecavelmente passada, e
colocada para dentro da calça, como muito bem observou meu amigo Márcio Paixão Júnior, numa advertência com muita procedência: Nunca
confie em ninguém com fala empostada e camisa pra dentro da calça.
A propósito, há um caroço no angu dessa conduta pretendidamente impecável, ou ilibada: a despeito de o caro professor ser DE (contrato que prevê dedicação exclusiva) na UNICAMP, a maior parte do seu tempo é dedicada a atividades com remuneração extra, tais como palestras, cursos de especialização, entre outras... Por exemplo, a PUC do Rio Grande do Sul está iniciando um curso de especialização em Finanças, Investimentos e Banking, de cujo corpo docente ele faz parte, ao lado de uma constelação de celebridades do momento.
Bom, façamos vistas grossas a esse... digamos... deslize do rapaz. À frente. Nos vídeos que posta regularmente em seu canal no Youtube, articula discursos que se pretendem críticos, talvez em certa medida subversivos, no mínimo capazes de provocar alguma desestabilização em sua audiência. Contudo, são discursos disciplinados, bem comportados, com performance bem ensaiada.
Bom, façamos vistas grossas a esse... digamos... deslize do rapaz. À frente. Nos vídeos que posta regularmente em seu canal no Youtube, articula discursos que se pretendem críticos, talvez em certa medida subversivos, no mínimo capazes de provocar alguma desestabilização em sua audiência. Contudo, são discursos disciplinados, bem comportados, com performance bem ensaiada.
De toda sorte, eventualmente, algumas das questões propostas
são desenvolvidas de modo interessante. Afora o fato de que ninguém é tema de consenso
todo o tempo, e que coerência entre discurso e prática é matéria prima cada vez
mais escassa, por vezes ouvia seus discursos até o final, para tentar compreender
seu modus operandi.
Foi assim que, há algum tempo, postei, na minha página da
plataforma Facebook, o link de um vídeo seu, no qual defendia a ideia de que "Ser
louco é a única possibilidade de ser sadio nesse mundo doente”. Bom, a essas
alturas, um outro professor, também historiador, reagiu ao vídeo, argumentando
que o Karnal fazia tal afirmação de modo irresponsável, sem ter em conta o
drama das famílias que precisam lidar com a loucura patológica. Eu concordo com
essa ponderação. O problema é que o tal professor o fez vociferando, xingando, enfiando
palavrões numa postagem que eu fizera na minha timeline (minha timeline, não:
timeline na qual o Mark Elliot Zuckerberg me autoriza a postar coisas em meu
nome... sendo que ele continua sendo o dono...).
Bom, se o Mark Elliot Zuckerberg é o dono de todas as
timelines do Facebook, e autoriza que eu poste e administre postagens em uma
página com meu nome, e se alguém se arvora a bradar palavrões em razão de uma
postagem feita por mim, depois de algum tempo observando o que ocorria, decidi tomar
posição, e firmar pé. Pedi, diplomaticamente, que ele prestasse atenção à sua linguagem ao
fazer comentários na postagem que eu fizera, que reservasse um mínimo de educação, ao menos ali. Ele reagiu de modo ainda mais
agressivo, como se eu estivesse defendendo o vídeo do Karnal. Como se eu fosse responsável pelo discurso do Karnal. Ao final, sugeriu
que, caso eu não quisesse que ele se manifestasse nas minhas postagens, que eu
o bloqueasse.
Sugestão dada, sugestão aceita: bloqueei o rapaz, e nunca
mais postei nada do Karnal, nem gastei meu tempo para ouvi-lo.
Agora me perguntem: senti falta de um dos dois rapazes? Eu lhes
respondo: nenhuma! Ao contrário. Definitivamente, os discursos do Karnal não fazem
falta para o aprofundamento das questões que me movem. Na verdade sequer
considero a possibilidade de buscar neles alguma referencialidade. Até porque
eles não propiciam quaisquer aprofundamentos, de fato: são rasos, tratam
questões relevantes de modo aligeirado, até irresponsável muitas vezes (nisso, o historiador
que eu bloqueei estava certo), e visam o mercado. O outro historiador? Se eu
sinto falta dele? Bem, quem era mesmo ele? Nem me lembro seu nome...
A propósito, em relação à polêmica causada pela postagem de uma foto em que o
Karnal está jantando com o juiz Moro, em Curitiba, cioso da magnífica
companhia e dos projetos possíveis a se anunciar, reitero o que já escrevi
anteriormente: boa parte dos pensadores legitimados pela história oficial das
ideias da tradição ocidental de matriz europeia, à parte serem homens
razoavelmente inteligentes, considerando-se os privilégios previamente garantidos
pelo status quo, à parte dominarem a
arte da oratória e do espetáculo, e concordando com o fato de eventualmente até
terem ideias instigantes, não abriam mão de estar à sombra do poder, e manter
suas cumbucas muito bem servidas, desde sempre! Sem julgamentos, nem sentenças
radicais, sem dramas existenciais, Karnal apenas não é exceção a essa regra.
Ponto.
Quem gosta de ver seus vídeos, que continue vendo; quem
gosta de ler seus livros, que continue lendo. Mas é preciso sermos um pouco
menos inocentes... ou crédulos...
Fica a dica.
Excelente comentário! Não sou um crítico dos mais ferrenhos do Karnal que, apesar da avaliação muito correta que você fez, oferece a seus leitores bem mais do que Lair Ribeiro, Paulo Coelho e Rhonda Byrne já fizeram. Suas indicações literárias são boas, se alguém se atrever a lê-las. Me incomoda mais é o foco que as pessoas estão dando ao evento curitibano. O quê um juiz, cuja discrição deveria ser um alicerces de atuação, está fazendo ao lado de um YouTuber popstar? Essa condescendência ao estrelato de juízes é assustadora.
ResponderExcluirMinha vó ja dizia:Deve esconder muito o que parece tão limpo!
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