terça-feira, 12 de maio de 2015

Mineiros cansados?



É antiga a história de se dizer que o goiano é mineiro cansado. E eu costumo brincar, provocando a ideia de que se fosse mineiro cansado não teria chegado até aqui, teria ficado em Minas Gerais, afinal... De acordo com essa lógica, os que ficaram é que seriam os cansados...

Provocações e risos à parte, mais uma vez, dentre as quantas, ouvi essa deixa no domingo último, enquanto se desenvolvia, num almoço pelo Dia das Mães, a conversa sobre o desenvolvimento dos negócios agropecuários no sudoeste goiano.

Com a intenção de me situar sobre a conversa, supondo que eu fosse desinformada sobre as questões rurais e também sobre a cultura goiana, muito gentilmente um jovem senhor me explicou esse desenvolvimento começou depois que chegaram os gaúchos por aqui. Sorri, retribuindo a gentileza, e pensando nas quantas facetas do meu testemunho pessoal sobre o que tenha significado a chegada dos gaúchos. Mas nada disse, preferi ouvi-lo. Para reforçar seu argumento, ele prosseguiu dizendo você sabe, né, goiano é mineiro cansado. Por nada neste mundo eu perderia a oportunidade de fazer a provocação, invertendo a relação. Ele retrucou dizendo que goiano é mineiro cansado porque, embora tenha chegado até território goiano, se instalou e ficou ali, naquela vidinha mais ou menos, uma casinha na beira do rio, sem maiores ambições. E reiterou o cenário só mudou com a vinda dos colonos gaúchos.

Ele estava mesmo entusiasmado em me convencer de suas ideias. Explicou-me que as coisas, antes, andavam de modo bem devagar por aqueles lados. Mas depois que os gaúchos chegaram, tudo aconteceu muito rapidamente: eles foram derrubando o mato todo, e transformando em lavoura. As máquinas tomaram conta de tudo. A produção de soja, sorgo, milho para exportação passou a ocupar a maior parte da atividade agrícola. As usinas de álcool também se instalaram na região, alimentadas pelas plantações de cana-de-açúcar. O mais é gado de corte, para fornecer carne.

Perguntei como ficavam os sítios arqueológicos da região, nesse processo rápido de tomada da região para a produção agropecuária intensiva, lembrando a riqueza singular da região em desenhos rupestres. Ele explicou que, por sorte, as grutas estão em áreas que, pelo tipo do terreno, não interessam a essas atividades. Isso faz com que esses sítios acabem sendo protegidos, de alguma maneira. Mas o que restante já foi tudo derrubado... 

Ou seja, sua salvação está exatamente no desinteresse econômico. Os desenhos deixados pelos habitantes mais antigos daquelas redondezas são apenas um detalhe numa paisagem que ainda não mostrou alguma qualidade atrativa ao projeto desenvolvimentista. Por isso, apenas por isso, ainda sobrevivem...

Lembrei-me de algumas fotos de voçorocas assustadoras, engolindo o solo, na região. Lembrei-me, também, dos territórios em franco processo de desertificação no sul do país, em decorrência do modelo de agricultura intensiva praticado por lá, e levado pelos gaúchos às outras partes do país, sem quaisquer estudos a respeito dos impactos sobre os diferentes biomas nos quais passam a atuar.

Fiquei ali, ouvindo o jovem senhor. Quanto mais ele falava, mais cada uma das palavras progresso e destruição soavam como sinônimo uma da outra...

Mineiros cansados?






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