quinta-feira, 12 de junho de 2014

Animais humanos...


Quando olho um gato, ou uma coruja, e eles me olham, nosso assunto se estabelece de bicho para bicho: o bicho que eu sou e o bicho que eles são. Acho que isso tem me deixado meio inquieta com essa onda na linha cut cut com os animaizinhos. Quaisquer animaizinhos. É quase uma histeria coletiva, que resulta de uma ilusão de defesa dos direitos dos animais. Contudo, tanto a defesa desses direitos quanto o comportamento cut cut com os animais deixam de levar em consideração duas coisas fundamentais: gatos, cachorros, pássaros, patos, cobras, elefantes, minhocas não são humanos! São gatos, cachorros, pássaros, patos, cobras, elefantes, minhocas... têm lá suas próprias formas de se instalar e interpretar o mundo. Aliás, formas inacessíveis para nós, e nem por isso menos complexas, menos válidas, ou menos efetivas. Nós, da espécie humana, somos tão animais quanto qualquer um deles. Por isso mesmo não somos melhores que nenhum leão, ou bactéria. Eles não são dignos de respeito por cultivarem alguma moral humana, ou capacidade de afeto que se aproxime da humana. Ao contrário: sua força está em sua dimensão animal não-humana! Por isso mesmo, não deveríamos, em nome de nos colocarmos de igual para igual, trazê-los para o nosso habitat e impingir-lhes o nosso modo de vida. Aliás, havemos de lembrar, também, que os discursos recorrentes em defesa dos seus direitos fundam-se em argumentos humanos, e não caninos, felinos, paquidérmicos... Do mesmo modo, o modo cut cut de cuidar dos animaizinhos também os força a sair de suas próprias dinâmicas, para se submeterem ao modus vivendi cut cut dos humanos. Eles, por sua vez, adaptam-se, para sobreviver. Submetem-se às roupas humanas, os seus banhos, os shampoos, os odores, os alimentos, as esquizofrenias, à desrazão humana, para assegurarem-se vivos.

Sabe-se lá como!





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