Quando olho um gato, ou uma coruja, e eles me olham, nosso
assunto se estabelece de bicho para bicho: o bicho que eu sou e o bicho que
eles são. Acho que isso tem me deixado meio inquieta com essa onda na linha cut cut com os animaizinhos. Quaisquer animaizinhos. É quase uma histeria coletiva,
que resulta de uma ilusão de defesa dos direitos dos animais. Contudo, tanto a
defesa desses direitos quanto o comportamento cut cut com os animais deixam de levar em consideração duas coisas
fundamentais: gatos, cachorros, pássaros, patos, cobras, elefantes, minhocas
não são humanos! São gatos, cachorros, pássaros, patos, cobras, elefantes,
minhocas... têm lá suas próprias formas de se instalar e interpretar o mundo. Aliás,
formas inacessíveis para nós, e nem por isso menos complexas, menos válidas, ou menos efetivas. Nós, da espécie humana, somos tão animais quanto qualquer um deles. Por
isso mesmo não somos melhores que nenhum leão, ou bactéria. Eles não são dignos de
respeito por cultivarem alguma moral humana, ou capacidade de afeto que se
aproxime da humana. Ao contrário: sua força está em sua dimensão animal não-humana!
Por isso mesmo, não deveríamos, em nome de nos colocarmos de igual para igual,
trazê-los para o nosso habitat e
impingir-lhes o nosso modo de vida. Aliás, havemos de lembrar, também, que os
discursos recorrentes em defesa dos seus direitos fundam-se em argumentos
humanos, e não caninos, felinos, paquidérmicos... Do mesmo modo, o modo cut cut de cuidar dos animaizinhos
também os força a sair de suas próprias dinâmicas, para se submeterem ao modus vivendi cut cut dos humanos. Eles, por sua
vez, adaptam-se, para sobreviver. Submetem-se às roupas humanas, os seus
banhos, os shampoos, os odores, os alimentos, as esquizofrenias, à desrazão
humana, para assegurarem-se vivos.
Sabe-se lá como!
Nenhum comentário:
Postar um comentário