sábado, 22 de janeiro de 2011

Rituais de chegada

I
Pessoas
Saindo da rodoviária, o taxista comentou: "Ôw, este mundo tá ruim demais: é carro, carro, carro... neeeeim! Qualquer dia a gente vai é ganhar dinheiro com terreninho na beira do córgo, alugando prá estacionamento!". Eu pensei: "Yessss! cheguei" Estava com saudade desse falar...

II
Animais
À porta de casa, Bruce, um cãozinho irritado, que mora no apartamento vizinho, manifesta-se latindo. De plantão, à porta da sala, reage a todo e qualquer movimento externo. "Fica quieto, Bruce!" Acho graça, reconhecendo o quão familiar me é esse estranho diálogo de chegada.


III
Pessoas
Outro taxista amigo nosso fez uma corrida comigo, mais ao final da tarde. Quando soube que eu teria de ir ao supermercado, antecipou-se: passou na casa dele, colocou na sacola uma penca de bananas, duas peras, meio melão, e me trouxe: "Hoje a senhora pode descansar da viagem. Amanhã vai ao supermercado". Eu estava com saudades dessas pessoas...

IV
Pessoas e animais
No mesmo dia, fui visitar minha vizinha, abraçá-la, saber das notícias. E dar oi à Lola, que conversa comigo, canta e assovia, pela janela da cozinha, nos finais de tarde quentes. Estava indócil, com calor. Demos-lhe um banho, com um borrifador de água. Animada, ela abria as asas, arrepiava-se, agitava a cabecinha, molhando todas as penas. Ensaiava pequenos vôos frustrados. Ficou feliz, a papagaia. Feliz e feia, muito feia, com as penas arrepiadas, desgrenhadas.

V
Pessoas? Animais?...
No balão, mais conhecido como rotatória, o motoqueiro passou em alta velocidade, desconsiderando que a preferência, na via, não era dele. Em seguida, uma camionete cabine dupla avançou na contramão, numa via de mão única. Já na praça, dois caminhõezinhos manobravam, indiferentes ao fluxo de automóveis, inviabilizando as três faixas da avenida. Eeeeeh, Goyaz! Cheguei, cheguei mesmo!




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