Para Rafael
O jovem inquieto e metódico planeja e, passo a passo, vai executando seu caminho cujo destino é o mundo da arte. É artista respeitado. Seu trabalho é meticuloso, disciplinado, tem potência, pulsa em permanente ebulição. Ele faz, desfaz, refaz, com crivo e critérios até mesmo mais rigorosos do que os de curadores e comissões de julgamento.
Mas sua produção fílmica enfrenta
resistências para ser aceita nos festivais regionais e nacionais. Ele se
pergunta sobre as dissonâncias entre seu trabalho e as expectativas dos júris e
dos organizadores dos eventos. Transforma essas questões em assunto de
investigação. Sua indagação ganha força, sobretudo, quando tem a mesma produção
aceita em festivais no exterior, alguns de grande porte e extensão
internacional. Do mesmo modo, experimenta acolhida em salões de arte. Dos
salões regionais aos nacionais, passa a experimentar a alegria de ver seus
trabalhos aceitos, expostos, admirados por diferentes públicos e segmentos do
mundo da arte. Passa, então, a ter reconhecimento, a ter o próprio estilo
reconhecido, nominado. Colecionadores desejam adquirir exemplares de seu
trabalho.
Naquela noite, seria aberta uma
grande exposição, resultado de um edital público, que chegou à escolha de um
seleto conjunto de obras completas para serem produzidas e mostradas com
destaque, além de outros trabalhos. A proposta dele estava entre as obras a serem apresentadas completas. Assim, logo à vista de quem ingressasse no
grande salão, estavam expostas suas fotografias inquietantes. Todos os
curadores, membros do júri, jornalistas, estudantes de artes, digital influencers passaram por ali, conversaram com ele, fizeram perguntas, tiraram fotos. Não havia dúvidas de que ele se tornara referência notória no circuito artístico.
Em meio à intensa movimentação, depois de muitas fotos e comentários e cumprimentos, incluindo autoridades políticas locais, ele constatou que duas das suas fotos estavam de ponta-cabeça. Os montadores, igualmente encantados com seu trabalho, não se deram conta de que as duas fotos estavam viradas, com as posições invertidas, enquanto as fixavam, cuidadosamente. Ele ficou inquieto, não conseguiu mais se concentrar nas conversas, evitou fazer fotos diante do trabalho. Procurou pela pessoa responsável pela montagem, para pedir ajuda. Não encontrou. Voltou. Entre receios, tirou, ele mesmo, as fotografias da posição inicial, reposicionando-as, agora corretamente. Este lado para cima.
Respirou aliviado. Ninguém
percebeu o movimento ágil de troca. Tampouco perceberam que havia sido feita a
troca. Nem os admiradores, nem os críticos, nem os curadores... Nem o próprio responsável
pela montagem da exposição percebeu a alteração. Para eles, pareceu não fazer
lá muita diferença, mesmo...
Goiânia, 13 de julho de 2024
Excelente! Verdade indiscutível, inconteste,a respeito da suposta consciência dos responsáveis pelo trabalho, árduo, desgastante,do Artista e sua. Obra. Parabéns! 👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏👏
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