domingo, 13 de julho de 2014

Fragmentos da leitura de Ulisses/Ulysses

Faço a leitura de Ulisses seguindo, como eixo primeiro (mas não único) a tradução feita por Bernardina da Silveira, publicada pela Ed. Alfaguara. No Episódio I, relativo a Telêmaco, a tradutora usa a expressão traponasal para referir-se a uma espécie de lenço sujo, que a personagem Mulligan toma emprestado de Stephen. A primeira vez que a expressão aparece é na fala de Mulligan:

- Faça-nos empréstimo de seu traponasal para limpar minha navalha.

Na tradução feita por Caetano W. Galindo, publicada pela Penguin Companhia, essa fala é traduzida assim:

- Empresta aí esse teu portameleca pra limpar a minha navalha.

Traponasal e portameleca pareceram-me expressões estranhas, que me instigaram perguntas em relação a duas coisas: em que contexto de linguagem, como um todo, essas expressões aparecem, no texto original? Que espírito linguístico preside a fala?

Antes de buscar pelo original, visitei a tradução feita por Antônio Houaiss, publicada pela Civilização Brasileira, e encontrei a seguinte fala para a personagem de Mulligan:

- Que nos conceda este trapo de focinho para limpar minha navalha.

Finalmente, chegando ao original, encontrei:

- Lend us a loan of your noserag to wipe my razor.

Noserag, portanto, é a palavra que gerou as três versões de tradução: traponasal, portameleca e trapo de focinho. Nose rag (que Joyce escreve junto: noserag) pode ser traduzido simplesmente como pano de nariz, ou seja, lenço. Mas, neste caso, o contexto linguístico é o cockney. Das três traduções, a que se aproxima mais desse espírito é a de Houaiss, trapo de focinho, seguida da expressão portameleca, na qual o tradutor tenta aproximar também a forma da escrita. Talvez pudéssemos pensar, bem ao espírito, algo como guarda-catarro, ou melhor, guardacatarro...

Sigo singrando leituras. Vou me perguntando por que elegi a tradução como leme para esta viagem. Pois bem, com Ulysses/Ulisses, espero encontrar a resposta, ou respostas...

O melhor da viagem não é chegar, mas estar a caminho...




2 comentários:

  1. Obrigado pela ótima explicação... Estava aqui a pensar o que, por Deus, seria um traponasal...

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  2. Gostei de sua pesquisa sobre o significado de transponasal e a lógica da mesma aplicada a James Joyce em Ulisses.

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