sábado, 4 de junho de 2011

Bruno, e uma experiência inaugural com o sentimento de perda



Já se passaram muitos anos. O zelador do edifício onde eu morava tinha um casal de filhos. A menina, mais velha, já era nascida quando a família se instalou ali. O menino nasceu depois, na residência pequenina, de poucos e apertados aposentos, a eles destinada. Eu mesma providenciei a muda de roseira branca para plantar na cova em que a mãe recém parida entrerrou seu cordão umbilical. A roseira não demorou a brotar folhas novas, e dar flores. Vicejou com ele. Logo pude ouvir seus gritinhos vibrantes, e testemunhar seus primeiros passos. Começamos, então, a brincar. Eu e meu amigo Bruno, correndo entre os pilotis do prédio.


O menino tinha quatro anos quando eu me mudei dali. Iniciada a movimentação com caixas, móveis, malas, sacolas, tantas tranqueiras que acumulamos no decurso do tempo, Bruno ficou agressivo. Gritava comigo, jogava-se no chão, chorava, esperneava. Nos dias subsequentes à mudança, retornei várias vezes, e fui ter com eles. Bruno mostrava-se mau-humorado, arredio, sem disposição para interagir comigo. Com o passar dos dias, aos poucos, retomou algumas conversas engraçadas, e até ensaiou umas risadas. Mas nunca mais voltamos a brincar como crianças entre os pilotis. Um pequeno vazio instalara-se, indelével, em seu coraçãozinho. No meu, também.





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